25 de abril de 2011

Salvem o diálogo

Por Odemar Lúcio

Eu não sei se você tem notado, mas as relações humanas tem passado por intensas crises de existência, de forma que as estruturas da convivência social encontram-se visivelmente abaladas, assim cada vez mais as conversas entre amigos tem se tornado mais superficiais e desinteressadas, as reuniões de famílias, menos importantes, as parcerias profissionais menos confiáveis, as amizades artificializadas, contudo, assim como as notas de cem reais, as araras azuis e os produtos originais, o diálogo também está incluso na lista dos quase extintos na sociedade dita moderna.
De fato, o corre-corre do cotidiano, a concorrência selvagem do capitalismo, a futilidade intelectual, o individualismo e a perca dos valores, o estresse, o medo de se tornar vítima dos criminosos, tem feito das pessoas, verdadeiras máquinas silenciosas e auto suficientes, de maneira que consequentemente os diálogos de hoje em dia resumem-se a meros murmúrios e balançar de cabeças, assim, você passa por alguém na rua, lhe deseja bom dia a pessoa não lhe responde, pergunta as horas e o outro finge que não ouviu, e mais, se você parar em um ponto de ônibus, junto a outras pessoas, é incrível! Ninguém fala nada, fica um silêncio fúnebre e quase que intransponível, e quando se arrisca quebrar o gelo, o diálogo caminha sobre estes trilhos:
 - Bom dia – a resposta não vem – parece que vai chover, não é?
 - Hã, hã – sussurra alguém.
 - O ônibus atrasou, não foi? – insiste.
 - Hã, hã.
 - Você viu o jornal hoje? – persiste.
 - O Bahia ganhou ou perdeu? – de fato, tem casos que nenhuma tentativa conseguirá furar o bloqueio silencioso, assim, você pode contar piada, plantar bananeira, ter um infarto fulminante que ninguém vai te dar atenção.
Aos poucos viver em comunidade já não diz nada ao conceito. As pessoas fingem que não se conhecem, namoram pela internet, economizam palavras e quando falam é com má vontade, sem o mínimo esforço de disfarce, portanto a impressão que se tem é que nas próximas gerações humanas, a fala será um item opcional feito acessório de carro, tipo: com travas ou sem travas?.. Enfim, após milhões de anos de existência, centenas de testes, horas e horas de aperfeiçoamento e espera, chegamos ao famigerado tempos modernos – acho que algo saiu errado! – agora é o que temos. A era da tecla mudo.

1 comentários:

  1. Uauu!!! texto bonito, fácil, claro e completo. Parabéns primo...soube escolher o tema e escrever com maturidade sobre o mesmo. Digno de pulblicação!
    Sílvia

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